Nupef no FIB 15: conectividade para fortalecer a resiliência territorial
A décima quinta edição do Fórum da Internet no Brasil (FIB) aconteceu em Salvador, Bahia, durante os dias 26 e 30 de maio. O evento, um dos mais importantes da área, reuniu representantes nacionais e internacionais dos setores governamental, sociedade civil, acadêmico e empresarial.
O Nupef é uma das organizações que participa do Fórum desde a sua primeira edição e, como não poderia deixar de ser, marcou presença no FIB15. Desta vez, a equipe esteve em peso, conduzindo atividades e participando ativamente dos debates.
No dia 27/05, o Nupef, em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), promoveu o Workshop: “Resiliência territorial e climática & conectividade (significativa?) em comunidades tradicionais”. A provocação lançada pelos/as participantes foi: como a tecnologia pode fortalecer a resiliência de comunidades quilombolas, indígenas e quebradeiras de coco babaçu frente às ameaças climáticas?
Para dialogar sobre o tema, estiveram presentes representantes dos setores acadêmico, empresarial, governamental e da sociedade civil. A moderação foi feita por Carol Magalhães e a relatoria por Moacir Neto, ambos da equipe do Nupef. Entre os pontos de consenso do debate, vale destacar o de que a noção de conectividade significativa seja multidimensional, incluindo acessibilidade financeira, acesso a equipamentos, qualidade da conexão e ambiente de uso. Os/as palestrantes também reforçaram que o acesso à Internet de qualidade é fundamental para cidadania, acesso a direitos, serviços públicos e participação social, principalmente em contextos urbanos e rurais vulneráveis.
Ludmila Monteiro, jovem liderança quilombola e comunicadora comunitária do Quilombo de Santiago (MA) destacou a importância do acesso à informação para que as comunidades quilombolas possam compreender como enfrentar os diversos tipos de ameaças ambientais às quais esses territórios estão submetidos. “Nós jovens podemos contribuir com as lideranças, para utilizarmos a informação, a Internet, a tecnologia ao nosso favor, para proteger nossos quilombos e combater as fakenews”.
Dialogando com o que trouxe a jovem, os/as palestrantes destacaram a importância de que soluções de conectividade sejam construídas a partir das necessidades dos próprios territórios, valorizando iniciativas e coletivos locais. “As comunidades rurais têm uma sociobiodiversidade própria, suas populações têm uma relação com o bioma onde estão inseridas que é muito diferente das comunidades urbanas. Com a conectividade baixa, há também uma dificuldade para que essas comunidades acessem a informação e produzam notícias locais, a partir das suas perspectivas e modos de vida. E isso é fundamental”, pontuou o pesquisador de conectividade na Amazônia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Centro Popular de Comunicação e Audiovisual (CPA), Hemanuel Veras.
Tecnologia com o território - As redes comunitárias foram apresentadas como um dos caminhos possíveis para democratizar esse acesso. Zeilane Conceição, integrante da equipe de Tecnologia do Nupef, explicou que as redes não levam apenas infraestrutura de conectividade para o território, elas permitem a apropriação da tecnologia pelas pessoas, o que muda totalmente a relação com a Internet e suas ferramentas. “A rede comunitária, certamente, não é a solução para todos os problemas de conectividade, mas quando a tecnologia chega ao território sob esse formato, a gente percebe que ela não é um fim, mas sim um caminho que possibilita que a comunidade se aproprie de conceitos e práticas fundamentais para que saibam se defender de ameaças e também a utilizar a tecnologia para fortalecer a resiliência do território”, disse Zeilane.
Nesse sentido, foi proposto que o Governo crie políticas públicas assimétricas, adaptadas às realidades regionais, para democratizar acesso a recursos e publicidade oficial e promover a produção de conteúdo local. Para Marina Pita, diretora de políticas digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, “não tem mais como falar de conectividade significativa sem falar de conteúdo significativo produzido localmente e é nesse sentido que a Secretaria de Políticas Digitais tem atuado a gente pela primeira vez tem uma secretaria que tem a atribuição de promover a sustentabilidade do jornalismo”. Marina ressaltou que é um grande desafio implementar políticas públicas com esse foco, visto que a conectividade é dominada pelos monopólios de comunicação que entregam conteúdos nocivos para as comunidades. “É fundamental pensar a conectividade significativa a partir de uma perspectiva de emancipação da produção de conteúdo”, ressaltou a diretora da SECOM.
Representando o setor empresarial, Jesaias Arruda, da Abranet, destacou as desigualdades de acesso à Internet no Brasil e lembrou que cerca de 15% dos 450 municípios da região Norte ainda não têm nenhum tipo de conectividade. Ele ressaltou a importância desse acesso chegar; porém, assim como os/as colegas de mesa, disse que isso não pode mais acontecer por meio de políticas verticais de acesso. “A pergunta que eu faço para mim todos os dias é como é que eu olho para essas comunidades indígenas, quilombolas, as favelas e povos ribeirinhos de uma forma horizontal, como eu regionalizo o conteúdo, sem querer impor políticas que venham na vertical que é o que acontece”, concluiu Arruda.
Reconhecimento - Durante o FIB, o legado do Nupef - 20 anos atuando para fortalecer o acesso democrático à informação - foi ressaltado em vários momentos. O diretor executivo da organização, Carlos Afonso, o c.a., foi homenageado em diversos momentos do FIB15, com destaque para o seu pioneirismo no acesso à Internet no país, com a criação do Alternex em 1987. Membro do Hall da Fama da Internet desde 2021, c.a. participou da reestruturação do CGI.Br em 2003 e representou o terceiro setor no Comitê até 2017.
Durante sua participação na “Sessão Principal 2 – O legado da Eco’92: meio ambiente, tecnologias e governança”, c.a. destacou a importância da sociedade civil no processo de democratização da informação e recordou que foi na ECO 92, em 1994, que se formou o protótipo do que seria o primeiro provedor de acesso nacional à Internet no Brasil.
Fotos por Robson Faria