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Tecnologia COM os territórios foi tema de roda de conversa promovida pelo Nupef durante a 13ª edição da RightsCon

“Como a infraestrutura pode ajudar na resiliência? Construindo com quilombolas e comunidades ameaçadas”. Esse foi o título da roda de conversa online promovida pelo Instituto Nupef no dia 25 de fevereiro, durante a programação da RightsCon2025. Participaram do encontro o diretor de tecnologia do Nupef, Rodrigo Troian; a liderança quilombola de Camaputiua (MA), Ednaldo Padilha, mais conhecido como Cabeça, e a coordenadora geral de Educação Midiática da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Mariana Filizola. A mediação foi feita pela diretora de desenvolvimento institucional do Nupef, Oona Castro.

O objetivo foi gerar reflexões sobre como as infraestruturas de tecnologia, informação e comunicação podem contribuir para o fortalecimento da resiliência em territórios que lidam com ameaças climáticas e territoriais, como as comunidades quilombolas, indígenas e de quebradeiras de coco babaçu nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Trabalhando com redes comunitárias há mais de 15 anos e responsável por liderar a reestruturação do sistema Tiwa, projeto de infraestrutura que compreende o sistema autônomo do Instituto Nupef, Rodrigo Troian ressaltou que diante de um cenário de profundas desigualdades, a organização atua buscando contribuir para fortalecer a comunicação segura com organizações, movimentos sociais e entidades públicas ou de interesse público a partir de duas principais frentes de trabalho: a manutenção de uma infraestrutura autônoma, resiliente e segura, com espaços online para que organizações e movimentos sociais gerenciem seus próprios serviços da Web, hospedem sites, plataformas etc. e o trabalho de conectividade e promoção do acesso à informação, que envolve a pesquisa de quais tecnologias são mais úteis e fortalecem os direitos e a proteção ambiental em cada território, de acordo com os objetivos de cada comunidade.

“O Nupef aposta no treinamento de jovens e no fortalecimento de espaços e processos que promovam o intercâmbio intergeracional nas comunidades, buscando aprender com as comunidades e respeitar ao máximo sua autonomia, suas escolhas e seus processos.  Junto com as comunidades decidimos quais as tecnologias serão usadas e como usá-las com segurança para nos comunicarmos mais e melhor, para promover a participação social e mitigar a desinformação. É para isso que trabalhamos e procuramos formar parcerias com aqueles com quem construímos juntos as tecnologias que queremos”, ressaltou Troian.

Durante sua fala, Cabeça – que é quilombola do território Camaputiua, no município de Cajari, Maranhão, associado da Associação das Comunidades Negras Rurais e Urbanas Quilombola do Estado do Maranhão (Aconeruq) e parceiro do Nupef no projeto Territórios Resilientes e Conectados - disse ser fundamental que as comunidades ameaçadas possam construir de forma colaborativa infraestruturas tecnológicas que fortaleçam a resiliência dos territórios. Para ele, as redes comunitárias são um exemplo potente dessas infraestruturas. “Em situações de insegurança, desligamos os rádios e contamos apenas com a comunicação interna gerenciada pela liderança. O território de Camaputiua é muito grande, para fazer uma mobilização presencial, são necessários mais de dois dias. Por meio da rede, podemos nos mobilizar muito mais rápido. A rede comunitária serve não apenas como um sistema de comunicação, mas também para promover a segurança dentro da comunidade”, explicou a liderança.

Implementada em 2017 e reforçada em 2024, a rede comunitária de Camaputiua foi a segunda rede instalada pelo Nupef.  Desde então, já foram implementadas mais de 40 redes com representantes de comunidades quilombolas, indígenas e de quebradeiras de coco babaçu, em diversos estados brasileiros, principalmente na região da Amazônia Legal. Os projetos do Nupef são realizados em parceria com comunidades indígenas e quilombolas e articulados com movimentos sociais e organizações, como o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e o Instituto População e Natureza. As redes comunitárias são formas de fortalecer comunidades por meio do acesso à informação e do uso seguro da tecnologia. Elas contribuem para garantir acesso à Internet, mas não se restringem a isso: são sistemas de comunicação (que podem estar conectados ou não à Internet) e contribuem para a proteção territorial, conectividade e difusão de conteúdos de interesse público.

A atividade também contou com a presença de outros integrantes da equipe do Nupef, jovens quilombolas, quebradeiras de coco babaçu e lideranças quilombolas que atuam nos projetos desenvolvidos pela organização, entre eles Celso Araújo, Secretário Nacional de Juventude Quilombola da CONAQ e Maria do Rosário Ferreira, associada do MIQCB, que comentaram sobre como as redes comunitárias e as atividades de formação para o uso seguro de tecnologia têm contribuído para a resiliência das comunidades. 

Políticas públicas – Outro ponto abordado durante a roda de conversa foi o papel do poder público na construção de políticas que contribuam para ampliar a conectividade nos territórios ameaçados, fortalecer a resiliência digital, mitigar o impacto da desinformação e favorecer a utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) para a proteção territorial. Segundo a coordenadora geral de Educação Midiática na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Mariana Filizola, o governo federal tem priorizado a implementação de políticas que favoreçam a resiliência no ambiente digital. “Estamos pensando para além da infraestrutura, focando nas pessoas que precisam ter os direitos respeitados. A Secom tem a missão de construir políticas públicas para o ambiente digital pensando na promoção da integridade da informação”.

Mariana destacou que um dos aspectos priorizados pelo governo tem sido a educação midiática. “A infraestrutura precisa vir combinada como uma estratégia de resiliência informacional das pessoas. Por isso, é papel do governo implementar políticas públicas que oportunizem que todas as pessoas tenham habilidades para entender o ambiental digital, para questionar as informações que recebem e também para produzir os seus conteúdos nesse ambiente, dando vazão aos seus direitos, vozes e próprias histórias”, concluiu a coordenadora.

Saiba MaisRightsCon é uma conferência internacional que reúne líderes empresariais, representantes do governo, tecnólogos, acadêmicos, jornalistas e defensores dos direitos humanos de todo o mundo para tratar de questões urgentes na interseção dos direitos humanos e da tecnologia. Em sua 13ª edição, o RightsCon 2025 aconteceu em Taipei, Taiwan e online durante os dias 24 e 27 de fevereiro.

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