Pular para o conteúdo principal

Nupef e CONAQ comemoram certificação de jovens quilombolas em curso sobre tecnologia, comunicação e direitos humanos

No último dia 12 de dezembro, aconteceu a cerimônia virtual de certificação do projeto Estratégias de Comunicação e Resiliência em Territórios Quilombolas, realizado pelo Instituto Nupef, em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ). O evento reuniu organizações parceiras, equipes e os/as dez jovens bolsistas que concluíram a formação em tecnologia, comunicação e direitos humanos iniciada em janeiro de 2023. A cerimônia foi marcada por muita emoção pela conquista alcançada.

A abertura ficou por conta dos jovens Simplícia Vitória dos Santos Silva e Marcos Conceição dos Santos, moradores do quilombo Tapuio, na cidade de Queimada Nova (PI). Com um poema que escreveram juntos, traduziram as aprendizagens vividas ao longo das 143 horas de formação: “Somos negros, somos quilombolas. Nossos antepassados, são nossas escolas. Somos guerreiros, somos trabalhadores. Somos resilientes, apesar de nossas dores. Quilombo é força, é união. É reconhecer a história do negro, dentro dessa nação. Um povo que sofreu muito, com muita humilhação. Mas, apesar de tudo, é um povo campeão. É uma honra ser quilombola. Não pelas sofrências, mas pela trajetória. Com CONAQ e Nupef realçaremos a nossa história”. 

Na sequência, as falas dos/das representantes da CONAQ e dos/das jovens ratificaram o impacto do trabalho desenvolvido nas comunidades participantes do projeto. Como parte das atividades, foram instaladas 04 redes comunitárias e foram capacitados dez jovens, moradores de 05 comunidades quilombolas: Boca da Mata (Icatu - Maranhão); Custaneira (Paquetá-Piauí); Itaperinha (Tutóia-Maranhão); Santa Joana (Itapecuru Mirim – Maranhão) e Quilombo Tapuio (Queimada Nova-Piauí). O projeto teve apoio da Fundação Ford.

Participação política – Camila Ramos da Luz Silva, presidente da associação da comunidade quilombola de Itaperinha, destacou a contribuição do projeto para o fortalecimento das juventudes quilombolas, que não só se instrumentalizaram no que se refere à formação técnica sobre implementação de redes comunitárias, mas principalmente na dimensão política. Para a diretora de desenvolvimento institucional do Nupef, Oona Castro, essa dimensão da criticidade e da autonomia no uso da tecnologia pelos movimentos sociais e pelas comunidades é um aspecto central do trabalho desenvolvido pelo Nupef.

“Nosso desafio é pensar junto com os movimentos quilombolas e indígenas que constroem resiliência há pelo menos cinco séculos como podemos fortalecer essa resiliência a partir das ferramentas de comunicação e das tecnologias. Nosso compromisso é com o uso da tecnologia para promover direitos humanos e fortalecer a democracia. Não queremos a aderência acrítica”, ponderou Oona, que também destacou o quão importante foi a parceria com a CONAQ para a realização do projeto: “fomos acolhidos de forma generosa, instigante e provocadora e fomos convocados a pensar e a fazer todo o projeto juntos. Foi um processo de muito aprendizado”. Carol Magalhães, assessora de projetos do Nupef, também comentou a potência da parceria com a CONAQ: “Trabalhar no tempo dos movimentos é muito importante e conseguimos fazer isso. Celebramos hoje esses resultados porque construímos todos os passos com muito cuidado, com muito respeito e de uma forma muito coletiva e harmônica”.

Para a coordenadora executiva da CONAQ, Maria Rosalina dos Santos, o êxito da iniciativa se deve ao respeito às dinâmicas das comunidades e das juventudes quilombolas. “Foi a primeira vez que vi um projeto garantir 100% de conclusão. Os 10 jovens que iniciaram conseguiram concluir o curso, mesmo diante de muitos desafios. Isso só aconteceu, porque as dinâmicas do projeto foram sensíveis à realidade das/dos jovens quilombolas. Eles e elas foram convidados a compreender não apenas a importância do mundo digital, mas a importância desse conhecimento dentro das comunidades”, comentou a liderança da CONAQ.

Para os/as formandos/as, Rosalina fez questão de deixar uma mensagem de encorajamento: “Vocês não adquiriram conhecimento para vocês. Esse conhecimento só tem fundamento se ele for compartilhado com outros/as jovens. Vocês agora são multiplicadores/as de conhecimentos sobre tecnologia, comunicação e direitos humanos para toda a juventude quilombola do Brasil. É a ancestralidade que nos move. É preciso fazer mais, levar esse poder para dentro das comunidades para que possam se libertar desse sistema perverso. Precisamos de ousadia para seguir nessa parceria, para elaborar uma proposta maior para que seja possível levar esperança para mais jovens, para nos ajudar a continuar construindo uma sociedade que nos caiba”.

Compromisso – Ao receber simbolicamente os certificados, os/as jovens além de agradecerem pela oportunidade que tiveram, reforçaram o compromisso em multiplicar os conhecimentos em suas comunidades. “Foram meses muito enriquecedores, conteúdos muito bacanas e como diz nosso mestre Nêgo Bispo isso é só o começo, o meio e o começo. A gente fez o começo lá em janeiro e estamos aqui no meio para um novo começo”, disse Mateus de Souza, do quilombo de Custaneira. O colega Andeson de Souza Silva, de Itaperinha, fez questão de contar que já tem colocado em prática as aprendizagens: “Tudo o que aprendi, levei pra vida e coloquei em prática. Na semana passada tivemos uma Busca Ativa Escolar e formamos uma reunião com as crianças que estavam fora da escola, falamos do projeto e apresentamos a rede comunitária para elas”.

O coordenador executivo de Juventude Quilombola da CONAQ, Celso Araújo, que atuou como articulador do projeto, ao relembrar como começou sua atuação política, reforçou que a participação é peça-chave para a transformação das juventudes quilombolas do Brasil. “Nessa caminhada, me encontrei no movimento quilombola e não consigo mais me ver fora dele. Por isso, tento passar aquilo que tenho aprendido para minha comunidade, para os outros jovens. Nós, jovens, somos o presente da nação e precisamos chegar nas nossas bases”.

O coordenador executivo da CONAQ, Ivo Fonseca, ressaltou que as parcerias que a entidade estabelece têm como objetivo fortalecer a luta quilombola na construção de um novo ordenamento do país. “O Brasil tem uma dívida muito grande com o nosso povo. Apesar de toda a sofrência, nós estamos conseguindo avançar na construção de um novo ordenamento desse país. O Brasil não nos enxergava. A CONAQ consegue dizer para o Brasil que não é assim e nós estamos conseguindo apresentar uma nova modalidade de sociedade. E isso não fazemos sozinhos. As parcerias são fundamentais para a realização dos nossos objetivos”, disse Ivo.

Representando uma das organizações parceiras do Nupef no projeto, Alfredo Portugal, falou sobre a felicidade do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação em poder fazer parte de processos coletivos como o que foi desenvolvido nas cinco comunidades quilombolas. “Em um cenário de tantas violências, projetos como esses são fundamentais para nos ajudar a entender como essas variadas violências estão perpassadas pela comunicação, pelas tecnologias. Em diálogo com as juventudes quilombolas aprendemos muito!”, concluiu Alfredo.

A cerimônia de certificação contou com a mediação de Zeilane Conceição, que atua na área de tecnologia do Nupef e foi encerrada com a benção do grupo Mandingueiros do Amanhã, da comunidade de Santa Joana, que fez uma roda de capoeira em homenagem aos /às jovens que concluíram a formação.

REDES SOCIAIS

 

O conteúdo original deste site está sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International (CC BY-SA 4.0). Os conteúdos de terceiros, atribuídos a outras fontes, seguem as licenças dos sites originais, informados nas publicações específicas.