Vozes das comunidades: entrevistas (III): Genival
Para conhecer um pouco melhor os moradores das comunidades onde o Nupef implanta redes comunitárias, realizamos entrevistas ao longo dos dias em que estivemos lá. Elas mostram um pouco seu modo de vida, suas ideias, expectativas e reações ao projeto de implantação de redes. Abaixo você lê a terceira das entrevistas realizadas durante implantação da rede comunitária do Nupef na região de Amarante do Maranhão, em outubro de 2019.
Entrevista com Sr. Genival (diretor da escola local e líder da comunidade)
Equipe: Nupef e Ana Paula (jovem da comunidade)
Nupef: Vamos apresentar sr. Genival? Quem é o seu Genival? O que ele faz na comunidade?
Ana Paula: Ele é diretor da Escola.
Nupef: Genival, o que mais você faz, há quanto tempo está aqui?
Ana Paula: ele trabalha com roça
Genival: Olha aí, ela tá ciente da situação né? Primeiramente trabalho de roça, que é o que a gente foi criado, e aí essa vida de comunidade, né, em que a gente faz diversas coisas: ajuda ali, corre acolá, e também como ela falou agora por última essa questão da direção da escola, mais um desafio que a gente se propôs a, e graças a deus atualmente tem dado certo, né? Dado certo por quê? Devido ao nível de reclamação. A gente faz tudo na base da combinação, do acordo, fechando a nossa ideia de que tudo passe a dar certo no diálogo, na base do acordo e principalmente na questão da maioria.
Com essas coisas referentes à comunidade, tem o pessoal do MIQCB, a gente sempre arruma um tempo. Acontece de a gente às vezes se ausentar de um movimento ou outro mas devido à quantidade de coisinhas que a gente pretende ajudar, pra melhorar nosso ambiente, de comunidade e de vida para a gente estar ligado com o restante com o mundo.
Nupef: E o senhor nasceu aqui?
Genival: Sim. Nascido e criado aqui. Me ausentei por 4 anos. A vida na cidade não é muito boa pra quem tem a roça no sangue, na pele, é meio difícil porque na cidade você tem que ter uma outra cultura, né? Geralmente há de viver empregado e o cabra que nasce com sangue roceiro dificilmente ele adapta.
Nupef: a relação com trabalho é outra também né? Na cidade a gente divide muito a relação de trabalho do que seria o resto da vida. E na roça vida e trabalho se misturam mais, né?
Genival: Isso. Porque não é só uma atividade que você vai exercer. A partir do momento em que você vai morar na roça são inúmeras atividades: você trabalha na roça e cria um bicho e a correria é grande por você ter que manter tudo no dia a dia, a sua produçãozinha alinhada. Eu sempre digo pros meninos que na cidade você tem que comprar de um tudo. Aqui na roça também. A diferença é que na roça você tem a possibilidade de plantar. Você planta o que estiver a seu alcance e vai lhe dar o sustento. O arroz por exemplo, já começa da alimentação que é a base do arroz, tudo é plantado. É lógico que viver na cidade, através de um emprego, quem tem essa habilidade tem como viver. Mas quem sai do campo pra viver na cidade sem procurar um emprego, sem se habilitar, não tem como viver, porque o emprego é sua fonte de renda. E na roça você planta. Tem ano que não dá, mas a maioria dá. E você tem a certeza que vai usar dali, sua alimentação, sua sobrevivência dali.
Nupef: Agora, Paulinha, eu quero poder perguntar para o Genivaldo sobre as redes. Como foi a história de ouvir falar das redes e do acesso antes de chegarmos aqui?
Genival: primeiramente a gente já tinha procurado o pessoal na sede do município, em Amarante, sobre a internet, para a gente ver como seria a aquisição, coisa e tal, e os métodos que ele indicou foram muito além da vivência e do financeiro da comunidade. A gente iria custear uma torre com uma antena que chegaria em torno de 8 a 10 mil reais e depois pagar o pacote mensalmente que seria um valor um tanto quanto excessivo para cada companheiro da comunidade. E mais recentemente o pessoal do MIQCB por meio da sua assessoria chegou falando com a comunidade sobre essa questão da internet comunitária. É um projeto que eles já vêm exercendo em algumas comunidades e que tem dado certo. E faz uns dois anos, parece, o pessoal da coordenação informou que tinha um novo projeto em mente, de pedir que duas comunidades parceiros - a fundação ford e os demais - e que estavam colocando essa situação e que a gente seria beneficiado com esse tipo de internet. E pra nós só vem mesmo acrescentar mais melhorias no que a gente pretende. A gente precisa de comunicação. Desde que a gente se situou aqui que é um pouco isolado, primeiramente com relação à estrada, que não era muito fácil e melhorou um pouco, mas a gente precisa de muito mais. Mas agora, com essa parceria, essa assessoria, do MIQCB com a comunidade tem melhorado muito no dia a dia.
E melhora mais ainda com o projeto de comunicação que é a chegada desse equipamento, dessa rede pra gente, que brevemente a gente vai poder ligar. Tem muito parente aí por esse mundo afora: é Minas Gerais, Pará, Roraima, e a cada minuto que se passa a gente vê que a comunicação está ficando mais aproximada.
Nupef pra Ana Paula: O que vc achou desses dias aqui?
Ana Paula: É muito bom, porque vai pegar o sinal onde minhas tias moram, e vai ficar bom.