Vozes das comunidades: entrevistas (II) - Wcelia
Para conhecer um pouco melhor os moradores das comunidades onde o Nupef implanta redes comunitárias, realizamos entrevistas ao longo dos dias em que estivemos lá. Elas mostram um pouco seu modo de vida, suas ideias, expectativas e reações ao projeto de implantação de redes. Abaixo você lê a segunda das três entrevistas realizadas durante implantação da rede comunitária do Nupef na região de Amarante do Maranhão, em outubro de 2019.
Entrevista com Wcelia, jovem moradora e integrante do projeto Pindova
Wcelia: Nasci aqui, quando tinha 5 anos meu pai resolveu ir para uma área de assentamento. A gente foi, passou 15 anos lá, e retornamos. Aí a gente voltou e está engajado na comunidade, vivenciando com todos renovação de algumas coisas que estão vindo pra gente, e agora com a Internet é mais uma expectativa boa pra comunidade e pra gente que vive aqui.
Nupef: e essa rede sem internet que chegou aqui? Abalou um pouco? Foi como foi isso?
Wcelia: Abalou um pouco porque toda a comunidade já estava na expectativa de que ia se comunicar via WhatsApp, Facebook, Instagram. Aí quando veio com essa ideia, de que seria interna, assustou um pouco, mas na minha opinião é um passo importante e será mais fácil para a valorização. Porque uma coisa chegando de primeira é mais desvalorizada do que se for passo a passo - começar a se comunicar, entender, aqui dentro, porque é esse processo que está acontecendo aqui esses dias: a gente está aprendendo, está compartilhando. Está começando a se comunicar aqui dentro para depois passar para fora.
Nupef: E esse envolvimento grande da comunidade - a gente viu 20, 30 pessoas participando do processo - sempre é assim? Sempre que vem um projeto para cá todo mundo se envolve?
Wcelia: graças a deus, acho que quem pode te dar uma resposta melhor ainda para te confirmar é o MIQCB. Porque o MIQCB sempre está aqui com a gente. E a comunidade sempre esteve disposta e que deus possibilite que esteja sempre mais ainda. Mas é sempre isso: quando vem a gente agarra com garra mesmo pra trabalhar junto. Até porque a gente pensa que aquilo é pra gente. Então é a gente que tem que se disponibilizar para acontecer mesmo.
Nupef: E como é seu dia-a-dia aqui hoje? Você se formou, conta um pouco sobre isso.
Wcelia: eu terminei o ensino médio, né? Não foi aqui, foi na região perto de estreito e a partir do momento em que eu terminei o ensino médio foi quando a gente voltou pra cá. E aqui estava tendo o curso “Casa familiar rural”, que acontece em algumas cidades do Maranhão e aqui no Amarante a gente tem. E eu fui fazer juntamente com outros primos daqui, e ano passado a gente terminou 3 anos lá. É um curso técnico de agropecuária mas aí a partir do momento que a gente terminou a gente está tentando caçar alguns meios. Eu fico aqui trabalhando com alguns projetos que o MIQCB traz e também em Imperatriz tentando algumas oportunidades, porque a gente tem que caçar meios. Então por enquanto minha vivência é dentro da comunidade e em Imperatriz, junto com o MIQCB trabalhando, participando dos projetos.
Nupef: E você participou do projeto Pindova, né?
Wcelia: Participo.
Nupef: Ah, sim, participa. Não acabou. Quais são os desafios pensando em comunicação, história, manutenção e preservação desse modo de vida, de atividade econômica? Como você avalia?
Wcelia: Na minha opinião é um desafio e uma oportunidade, principalmente para mim que estou engajada no movimento, e quero continuar, com fé em Deus, de a gente se pensar, criar grupos, e com a Internet pode facilitar isso, para renovar as atividades dentro da comunidade, valorizar mais a comunidade em si, valorizar o grupo, principalmente o grupo Pindova a gente trabalha com artesanato, trabalha com venda e a Internet é um meio de venda. Né? A gente pode usar a internet pra vender as peças, valorizar o artesanato e também fortalecer mais o grupo com isso.
Nupef: Você gostaria de deixar alguma dica para o Nupef? Coisas para a gente melhorar?
Wcelia: Acho que dica não, mais agradecimento. Pelo Nupef, né, junto com o MIQCB, trazer essas oportunidades pra cá. Por mais que não tenha sido o que estava previsto, esse já é um grande passo. E uma oportunidade grandíssima para a comunidade. E eu como de dentro da comunidade, a gente agradece o Nupef de coração mesmo, essa foi uma esperança grande. O que vocês estão trazendo de início, já é um grande passo para a gente evoluir mais ainda.
Nupef: Obrigada.
Wcelia: A gente que agradece.