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“Foi excelente conhecer de perto o processo de implantação de redes comunitárias”

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Analista de Suporte do Nupef compartilha impressões de sua primeira viagem de campo no projeto que implementou e expandiu redes no Maranhão.

Zeilane Conceição atua junto à equipe de suporte do Nupef e fez recentemente sua primeira viagem de campo para ajudar na implementação e expansão de redes comunitárias nas localidades de Matões dos Moreira e Boa Esperança, no Maranhão.

Compartilhamos a seguir suas impressões, para que mais gente tenha acesso ao olhar sensível que ela nos apresentou.

Eis o relato:

implementação de nodo da redeAo longo de 10 dias, estivemos em duas comunidades no Maranhão: Matões dos Moreira, onde instalamos uma nova rede comunitária de comunicação, e em Boa Esperança, onde fizemos a expansão de uma rede já implementada em 2021. Além disso, realizamos algumas melhorias a partir das demandas identificadas pelas pessoas contempladas pelo projeto.

Durante a realização das atividades, convidamos a comunidade a pensar como a rede deve ser implementada para melhor atender suas demandas. Ao longo dos dias, o grupo identifica quais pontos a rede deve contemplar e se articula para montar grupos de trabalho que ajudarão na instalação dos roteadores pelo território e na gestão e manutenção da rede.

Nesse sentido, me chamou atenção a participação das mulheres e o seu interesse em atuar nas oficinas realizadas, bem como dos grupos de implementação e gestão da rede. Em ambas as comunidades, percebemos que a maioria dos participantes era composta tanto por mulheres mais jovens, quanto por senhoras que, junto a alguns senhores e adolescentes, se dividiram em atividades como a confecção de cabos e extensões e a instalação dos roteadores.

Acredito que este protagonismo feminino é presente em todas as atividades e projetos propostos por estas duas comunidades, que têm como uma das suas principais atividades as desenvolvidas pelas quebradeiras de coco babaçu.

Aqui, um breve parênteses sobre elas: as quebradeiras de coco babaçu lutam há anos para manter acesso livre aos babaçuais e para proteger as palmeiras, para seguirem exercendo as atividades econômicas e culturais tão ligadas à sua sobrevivência e à identidade. É possível conhecer mais sobre elas no site (https://www.miqcb.org/sobre-nos) do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).

Nas duas comunidades, observei que a maior parte dos depoimentos sobre o projeto de redes comunitárias foram fornecidos pelas mulheres das comunidade. Em Boa Esperança, a comunidade onde realizamos a extensão do projeto, as participantes enfatizaram como a rede facilitou as suas rotinas. Algumas de suas atividades agora podem ser feitas a partir de seu território, não precisando ir às localidades próximas como o centro de Codó ou a localidade chamada "17 KM", para serem realizadas.

Participante da oficina sobre roteadores

 

Tanto em Matões, quanto em Boa Esperança, contamos com a colaboração da filha de uma liderança do movimento de quebradeiras de coco babaçu*, que já havia participado da formação quando uma das redes do projeto foi implementada em sua comunidade. Esta participação foi de extrema importância, pois ela compartilhou sua experiência, além de colaborar ativamente com as oficinas, ajudando com atividades práticas e tirando dúvidas dos participantes.

A sua participação mostrou que a implementação destas redes é uma atividade meio, não somente para conectar estas comunidades à internet como para apresentar às populações contempladas a possibilidade da construção de uma rede local, onde comunidades vizinhas podem se ajudar, trocar informações e perceber que as redes podem ser ferramentas para suas articulações e lutas.

Em Boa Esperança recebemos a informação de que algumas pessoas deixaram o projeto em função de não terem mais um aparelho para se conectar ou porque não moravam mais na comunidade. Em sua maioria, no entanto, os depoimentos reforçavam a importância da rede para a comunidade.

Destaco, em meio a tantas realidades, a de uma família que optou por sair do projeto para ter seu próprio ponto, dividindo com outras famílias vizinhas, pois precisava de um acesso dedicado para poder acessar aulas remotas e desta forma, não impactar no consumo da franquia que é oferecida para a rede da comunidade. O interessante desta família é que, mesmo tendo seu próprio ponto, eles participaram e contribuíram com a expansão da rede para outras pessoas.

Para mim, a intenção de participar e colaborar com a expansão comprova a percepção de valor que a comunidade tem pelo projeto.

Nesse sentido, ainda sobre a percepção de valor do projeto pela comunidade, destaco o engajamento de uma professora que mora em Matões. Durante as oficinas, ela sempre se dirigia aos jovens presentes apresentando suas percepções sobre os possíveis impactos da rede para a comunidade. "A gente precisa cuidar da manutenção desta rede para que realmente possa facilitar a nossa vida. No futuro isso pode se tornar a profissão de vocês". Essa foi uduas mulheres durante a confecção de cabos da ofinama das falas mais impactantes dela - e que mais ficaram marcadas para mim - durante as oficinas.

Em especial, essa professora demonstrou grande interesse nos conteúdos disponíveis no nosso projeto paralelo às redes, o Graúna Comunitário, que leva um servidor portátil com conteúdos de interesse público que podem ser acessados offline. Segundo ela, o material será útil no projeto que ela desenvolve na comunidade, que é de alfabetização de jovens e adultos.

Vale observar que nem tudo é simples no processo de implementação de uma rede comunitária. Nos chamou a atenção nessa viagem, por exemplo, como a diferença geracional dos participantes, entre outras, afeta a maneira que eles absorvem as informações sobre o que é uma rede comunitárias e seus componentes.

Desta forma, acredito que a observação das variáveis no público-alvo possa ser um ponto para aperfeiçoarmos em determinados momentos das oficinas, inclusive no que diz respeito à linguagem. Como a nossa abordagem é de construção com a comunidade e através de suas percepções sobre o território, nossas dinâmicas estão sempre em processo de aperfeiçoamento, e este processo precisa levar em conta as particularidades das comunidades em que acontecem.

Em suma, depois de quase um ano e meio trabalhando no Nupef, e agora na equipe de suporte, foi excelente conhecer de perto o processo de implantação de redes comunitárias, e a realidade de comunidades de quebradeiras de coco babaçu, com quem o Nupef tem desenvolvido parceria há vários anos.”


*Optamos por não colocar os nomes das pessoas citadas por uma questão de privacidade.

Zeilane Conceição atua como analista de suporte e colabora com projetos de Redes de Tecnologia e Comunitárias, assim como nas atividades de treinamento do Instituto Nupef.

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