O que aprendemos na COP30: tecnologias, clima e justiça socioambiental caminham juntas
A participação do Nupef na COP30 marcou um momento histórico. Pela primeira vez, a organização esteve na Conferência do Clima como organização observadora da UNFCCC — um passo importante e uma grande responsabilidade. Estar na Amazônia, ao lado de povos indígenas, comunidades tradicionais, pesquisadores, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, bem como de representantes dos Estados-parte, ampliou a compreensão de como as tecnologias da informação atravessam corpos, territórios e modos de viver.
Desde o início da conferência, ficou evidente que tecnologia e clima são inseparáveis. A inclusão do tema integridade da informação na agenda oficial demonstrou que debates sobre infraestrutura digital, concentração econômica e poder político das Big Techs têm impacto direto na transição justa, na defesa do meio ambiente e na soberania dos povos. Como afirmou Joara Marchezini, coordenadora de projetos do Nupef, “há um espaço real de articulação e pressão, que antes até imaginávamos, mas não compreendíamos tão profundamente quanto agora”.

Com esse entendimento, as participações do Nupef ao longo da COP30 reforçaram um ponto central: não existe justiça climática sem justiça tecnológica. Esse eixo orientou a atuação em mesas, debates e atividades, especialmente na defesa da proteção de defensoras e defensores ambientais. Em diferentes espaços, reafirmamos a importância da ratificação do Acordo de Escazú, essencial para garantir acesso à informação, à justiça, à participação pública e proteção contra violência.
Essa perspectiva também guiou a contribuição que o Nupef deu ao debate “A armadilha dos tecnosolucionismos para a questão climática”. Oona Castro, diretora de desenvolvimento institucional, alertou que soluções digitais só são eficazes quando construídas com e a partir das comunidades: “tecnologias podem apoiar respostas às crises, mas grandes empreendimentos tecnológicos têm gerado pressões e impactos graves, especialmente em comunidades e terras indígenas”.


Dialogando com diferentes lideranças, fica a certeza de que a expansão tecnológica precisa considerar espiritualidade, cultura e vida — dimensões que costumam ser invisibilizadas nos projetos de infraestrutura. O cacique Roberto Ytaysaba Anacé lembrou que “quando se instala um datacenter no deserto do Atacama, ali existe vida, presença e espiritualidade”, destacando a importância de uma abordagem sensível aos territórios. Maria Ednalva Ribeiro, vice-coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) reforçou que para enfrentar as mudanças climáticas é preciso escuta e respeito aos territórios indígenas e quilombolas.
Para a assessora de projetos do Nupef, Carol Magalhães, acompanhar de perto as discussões conduzidas pelos povos e comunidades tradicionais foi um grande aprendizado: “a Cúpula dos Povos mostrou a força da sociedade civil, enquanto a COP na Amazônia evidenciou o choque entre quem defende o uso responsável dos recursos naturais e quem os explora em nome do ‘desenvolvimento’. Estar nesse espaço, onde interesses tão distintos se encontram, foi uma experiência fundamental.”

A potência da comunicação comunitária também emergiu como elemento-chave das discussões que o Nupef participou. Para a Rede de Agroecologia do Maranhão, por exemplo, a comunicação é uma “ferramenta de libertação e empoderamento” — mostrando que tecnologias podem fortalecer lutas territoriais quando colocadas a serviço das comunidades. Nesse mesmo caminho, Ianny Borari, da Escola de Ativismo, enfatizou a necessidade de uma postura crítica frente às infraestruturas digitais: “Você pode usar a Starlink — mas por que não pensar em uma camada de proteção para isso? Há uma exploração dura e contínua nesses territórios, fruto de um colonialismo que nunca terminou”.
Essas reflexões dialogam diretamente com o alerta de Isadora Amaral, da Luminate, para quem romper com a ideia de que o modelo das Big Techs é inevitável é fundamental: “Criticar não basta — é preciso validar alternativas tecnológicas que construam direitos”. Da mesma forma, Débora Maria Carvalho, da Transparência Internacional lembrou que a proteção indígena, a governança das tecnologias e o avanço do neoliberalismo precisam ser discutidos de forma interseccional, com centralidade em gênero, raça e classe. Sobre as dinâmicas territoriais em tempos de crise climática, Maite Gauto, da OXFAM alertou que as disputas relacionadas à transição energética, à exploração de petróleo e a grandes obras tendem a intensificar tensões com comunidades que defendem seus modos de vida.

Para Oona Castro, uma aprendizagem importante que o Nupef leva da COP30 é a certeza de que “a organização vai precisar estudar bastante o tema de adaptação climática para conseguir contribuir mais e melhor com nossos conhecimentos de infraestruturas de comunicação usadas por povos e comunidades tradicionais.” Ela disse ainda: “Foi muito importante ver como a participação extrapolou muito as negociações formais e entender que essa presença é parte do processo histórico para a entrada de novos temas e perspectivas inclusive nos acordos globais”.
O Nupef segue comprometido com uma transformação digital que sirva à vida, respeite tempos, corpos e cosmologias, e fortaleça a autonomia e a soberania das populações.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.