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Penalva recebe link de internet na segunda fase do projeto de redes comunitárias

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Como já relatamos aqui, o Instituto Nupef instalou uma rede de comunicação comunitária no Bairro Novo, no município de Penalva, na baixada maranhense, uma região muito pobre e caracterizada por conflitos e violência de latifundiários contra membros das comunidades quilombolas.

Na segunda fase do projeto, que aconteceu entre 20 e 29 de junho no Maranhão, foi instalado um link para acesso à internet via satélite, houve mais formação dos moradores do Bairro Novo (Penalva) e do Quilombo de Camaputiua (do município de Cajari), além de um estudo de viabilidade técnica de instalação da rede em Cajari.

Entre fevereiro e junho, quando ocorreram as atividades presenciais nos quilombos, as equipes do Nupef e da comunidade se comunicaram frequentemente para apoiar a manutenção da rede, período durante o qual os responsáveis pela rede mandavam relatos de avanços e problemas, e a equipe do Nupef aprendia sobre o desenvolvimento da rede e fornecia respostas e soluções quando necessárias.

Ao chegar lá, foram observados problemas na rede, que não estava em pleno funcionamento. Assim, tratamos de reiniciar e reinstalar a rede, o que foi bastante útil do ponto de vista pedagógico: os técnicos locais responsáveis pela manutenção puderam observar o passo-a-passo juntos e aprender a reiniciar a rede quando necessário.

Acesso à rede mundial de computadores e melhorias na rede

O planejamento inicial previa a criação de uma rede mesh e interna que conectasse não apenas os moradores de uma comunidade, mas também as comunidades entre si – que são separadas por muitos quilômetros, caracterizados por se encontrarem numa região de alagamento. Para isso, seria necessária a instalação de torres e antenas de longa distância. A equipe do Nupef chegou a dialogar com a Prefeitura de Penalva, que conta com uma torre outrora instalada - e depois abandonada - pela empresa de telefonia Oi e a administração municipal autorizou o uso da torre em questão. No entanto, essa alternativa se mostraria muito cara, devido ao custo dos equipamentos necessários. A solução encontrada foi a contratação de um link para criação de estação terrestre via satélite que, além de resolver a conexão entre as comunidades, permite aos moradores de ambos os quilombos acessar à rede mundial de computadores.

Assim, em junho de 2017, a central da rede comunitária de Penalva foi transferida da casa de uma moradora para a associação de moradores e recebeu o link de internet via satélite. Poucos minutos após configurar o link de internet, foram identificadas uma alta latência e a baixa performance na rede, afetando até mesmo os serviços locais. Analisando o tráfego de dados na rede, percebeu-se que alguns pontos estavam sob "estresse" devido a muitos hosts conectados tentando acessar a internet.
 

Imagem de campo

Para solucionar o problema, foi configurado o módulo NoDogSplash no LibreMesh, para implantação do sistema de vouchers, assim limitando o uso máximo da rede e da internet. Assim que o módulo começou a ser usado, e uma tela de login era apresentada para permitir o acesso a internet no momento que alguém conectasse na rede, houve uma queda do tráfego de dados e do uso da internet, restabelecendo o uso normal da rede.

Tal ponto chamou a atenção da equipe para que a rede seja dimensionada adequadamente para o número de usuários esperados, e assim cresça sustentavelmente de acordo com o número de novos associados. Foi instalado e configurado um servidor Debian Linux que servirá também como desktop da associação.

Para finalizar as oficinas técnicas de aplicações, houve uma demonstração de streaming de áudio e vídeo para a criação de uma RádioTV da comunidade na rede local. Foram comprados um microfone e uma Webcam de boa qualidade e utilizada a aplicação VLC, por ser software livre e de fácil utilização. Para a transmissão de vídeos e áudios gravados, a qualidade das transmissões ficou excelente, sem grandes interrupções e com baixo delay.

Já as transmissões ao vivo pela webcam e microfone enfrentaram problemas. A qualidade o vídeo ficou inferior, porém, visível. O áudio, no entanto, em alguns momentos não funcionou ou funcionou sem sincronização com o vídeo. A equipe se comprometeu a investigar os problemas e soluções e retornar para a comunidade.

Capacitação

Além de orientar os responsáveis locais sobre como reiniciar a rede em casos de problemas técnicos, permitindo uma sequência de reforço da capacitação, com reinstalação de firmware, inclusive via TFTP (processo complexo e pouco documentado) e o procedimento de criação e trocas de senhas fortes em cada equipamento para evitar novos incidentes, o que possibilitou aos presentes acompanhar e participar da resolução de um problema real, não simulado, foram realizadas outras atividades de formação local.

Thiago Paixão, da equipe, produziu vídeos tutoriais de como instalar o Libremesh* e o Elastix*. Aplicaram-se exercícios de forma prática e extensiva para todos os presentes, fazendo com que cada laboratório fosse praticado por cada um, tentando fortalecer o processo de apropriação do conhecimento.

foto: Isabella Paiva
foto: Isabella Paiva

Devido ao método, cada conteúdo aplicado tinha duração mais longa de execução. Foi identificado que a partir do momento que se repetiam os processos, os que aprendiam mais rápido já conseguiram passar o ensinamento para os próximos colegas, que ainda não haviam entendido, ou, executado o laboratório. Além disso, foram gerados registros fotográficos da configuração da BIOS do NUC devido à peculiaridade de compatibilidade entre o hardware e o sistema CentOS, garantindo informação precisa de como configurar corretamente este equipamento.

A equipe definiu também a implantação de um novo serviço de rede local via streaming usando o VLC e incluiu na capacitação a instalação do Debian 9 em substituição ao Linux Mint no webserver e a capacitação para edição de vídeos usando o Kdenlive, por demanda da comunidade por aprender a editar vídeos usando Software Livre – com técnicas básicas de edição de vídeo, como importar clipes, cortes, transições e efeitos. Pelo menos 3 usuários replicando as atividades apresentadas em seus próprios notebooks.

Foi realizada também uma oficina de instalação e uso básico de GNU/Linux com a distribuição Debian. Também foram ensinados conceitos básicos sobre software livre e cultura livre durantante a oficina técnica de GNU/Linux.

Expansão da rede

Em junho, a equipe visitou o município de Cajari para avaliar a viabilidade técnica de instalação de novos nós da malha da rede (que acontecerá em outubro de 2017) e definir os pontos da rede. Após uma viagem de cerca de 30 minutos de barco, desembarcaram em Cajari e caminharam quase um quilômetro até chegaram ao quilombo de Camaputiua. No percurso, analisaram ponto a ponto que foram indicados com sendo os mais altos e todos apresentam interferências graves, sendo a solução inicialmente planejada cara e de difícil manutenção, o que levou nossa equipe à conclusão de que a melhor solução (mais viável, mais barata) será construir uma rede mesh nos mesmos moldes da criada no Bairro Novo e conectá-las via satélite.
 

Uso do Wifi em Camaputiua (foto enviada pela comunidade)
Uso do Wifi em Camaputiua (foto enviada pela comunidade)

No fim de agosto, Camaputiua já recebeu o link de internet via satélite, para que a próxima fase, de instalação da rede mesh, que ocorrerá em outubro, já envolva conectar os quilombos de Camaputiua e do Bairro Novo.

Veja também um pequeno vídeo da viagem.

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